segunda-feira, 1 de junho de 2020

Longas Palavras Perdidas (Parte 7)

Olá, Pessoal!
Fiquem com a sétima parte do conto Longas Palavras Perdidas.

OBS: Fiquem atentos ao narrador e tentem entender o mistério o mais rápido que conseguirem.
Avisando ainda que apenas os excertos/trechos escolhidos das músicas foram a inspiração para aquela pequena parte do conto.

Longas Palavras Perdidas (Parte 7)

"Eu nem preciso rimar agora, a minha vida está feita... Eu sou podre de rico" - Letra da música.

Música:




Um mês passou. Rafael ouvia música com alguns amigos do bairro. Fumavam cigarros, bebiam e jogavam cartas. Uma música reconhecida começou a ser ouvida. Rafael foi o primeiro a reconhecê-la, mas não quis falar. Um dos amigos olhou para ele.
– A música do João.
Rafael respirou fundo, enquanto os outros ficaram surpreendidos. Era um rap. Um rap dele a passar na rádio.
– Sim. É dele. – Respondeu o Rafael.
– O puto tinha razão... – Falou um dos amigos.
Os amigos pareciam contentes. A música do João na rádio. O João estava a tornar-se conhecido. Que lindo! Um rapaz do bairro. Quem diria...
Para Rafael, a situação não era boa. O João sempre foi uma sombra na sua vida. Também ele tinha sonhos. Também ele tinha ambições. Também ele queria ser rico, queria cantar, queria ser reconhecido. Por que é que ele não era? E por que é que o João é?


"Não há nenhuma garantia que esta vida é fácil" - Letra da música.

Música:




A mãe do João estava emocionada enquanto ouvia a música do filho a passar na rádio. Estava orgulhosa do seu menino. Ela foi a primeira pessoa a acreditar nos seus sonhos, a acreditar nas suas ambições. Enquanto cortava um tomate para fazer uma salada para o almoço, viu-se a chorar. Um choro feliz. Um choro de orgulho. A vizinha surgiu em frente da sua janela assim que a música dele acabou de tocar.
– Parabéns, vizinha. Acabei de ouvir. O seu filho está um homem.
– Ele sempre me dizia que ia conseguir. E eu sempre acreditei nele.
– Fez bem, querida. Fez bem. – A vizinha afirmou com a cabeça. Também parecia orgulhosa de saber que um rapaz do bairro tinha conseguido sair daquela vida, daquela rotina. – Sabe, isto é muito bom para o bairro.
– Eu sei. – A mãe do cantor limpou uma lágrima que caía.
– A sério. É realmente muito bom.
– Eu sei. – Ela repetiu.
– E não ligue para as invejas. Sei que irá haver entre os amiguinhos dele, mas você é respeitada, vizinha.
– Eu sei.
A vizinha despediu-se com a desculpa de ir terminar o almoço. A mãe do João voltou a ter atenção ao tomate. Estava mesmo orgulhosa do seu menino.

"Acende e apaga as luzes" - Letra da música.

Música:





A jovem continuava em coma. Imagens bonitas passavam pela cabeça dela. Flashes rápidos sobre como seria a sua vida com o ex namorado João. Deitados na relva de uma casa com lago. Só mesmo um sonho porque na vida real seria praticamente impossível.
– Queria poder ficar aqui mais tempo, mas tenho que voltar para casa.
– Porquê?
Ela levantou-se e sacudiu as calças que estavam sujas com alguma relva.
– A minha mãe vai ficar preocupada.
– Ela sabe que estás aqui. Além disso, estamos a pensar no nosso casamento.
Calma... Casamento? Ela está a sonhar com casamento? Quantos meses é que ela já anda a sonhar? Há quanto tempo ela namoraria com ele?
– Sim, mas é preferível que ela esteja por perto. Temos que pensar no meu vestido de noiva.
Ele levantou-se da relva também.
– Ok, eu levo-te a casa.
– Não precisas.
– Não há possibilidade de negares. Que tipo de genro seria eu se agora aparecesses sozinha em casa? Eu teria a imagem de um idiota.
Ela riu-se.
– Então anda.
Eles encaminharam-se até ao carro dele. Um mercedes de 2010. Ele teria dinheiro para comprar um mercedes? Como?
Eles chegaram depressa a casa dela. Em segundos, devo confessar. Isto é apenas o sonho dela!
A mãe pareceu despreocupada ao ver a filha e ainda abraçou o futuro genro. Isto só mesmo em sonhos. Os pais dela detestavam o rapaz.
Mais flashes... Na verdade, no mundo real o quarto do hospital ficou negro. Tinham acabado de apagar as luzes.

"Assustada, andando em círculos. Estou debaixo da terra" - Letra da música.

Música:



A Joana chegou novamente ao quarto de hospital no dia seguinte para rever a ex amiga. Mentia constantemente aos enfermeiros chamando Mariana de amiga. A jovem continuava em coma, mas os médicos estavam esperançosos que ela iria acordar em breve.
– Já me disseram que vais acordar em breve. Que triste destino o teu. Podias ficar aí mais tempo. Podias ficar aí todos os teus dias.
Joana fez um ar sério enquanto olhava para o rosto sereno de Mariana.
– Vou ter que me meter nisto também. Sempre tenho.
Ela olhou em redor do quarto. Uma almofada em cima do cadeirão ao lado da cama prendeu-lhe o olhar. Deu a volta à cama e agarrou no objeto. Voltou novamente o olhar para o quarto. Viu a porta. Viu o rosto de Mariana. Era o melhor momento. Joana colocou a almofada na cara de Mariana e ela sentiu-se a sufocar. Um dos aparelhos começou a fazer apenas um "pi" continuado.
De seguida, Joana saiu dali.

Glossário:
Puto - rapaz (Linguagem popular entre jovens portugueses).


Espero que tenham gostado!
A Joana matou a Mariana?!
Será que conseguiram fazer a distinção entre os sonhos da Mariana e a realidade?
já resolveram o mistério?
A próxima parte será postada em breve!

1 comentário:

  1. Oi, Diana.
    Acho que já consegui resolver o mistério, sim. Consegui também distinguir entre os sonhos da protagonista e a realidade durante a leitura. Estou gostando cada vez mais das partes do conto e gostei mais ainda dessa aqui em relação às outras. Gostei do começo com o assunto da música do protagonista na rádio (pois qualquer assunto que envolva rádios eu gosto, adoro ouvir rádios e músicas nas rádios; é um dos meus passatempos na vida), da parte romântica do meio e do suspense da cena final dessa parte. Achei essa parte também bem escrita, com palavras bem garimpadas, isto é, você buscou, encontrou e trouxe palavras certeiras para encaixá-las ao texto.
    Acho que a Joana não matou a Mariana. Deve ter sido apenas um susto. (Espero eu...) :)
    ~Boa noite.

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