Hoje deixo a parte 10 do conto Longas Palavras Perdidas.
Tenho lido os vossos comentários. Posso dizer que estão todos um pouco longe de desvendar o mistério, mas tenho gostado de saber as vossas apostas/ideias.
Esta parte é ainda mais reveladora.
OBS: Fiquem atentos ao narrador e tentem entender o mistério o mais rápido que conseguirem.
Avisando ainda que apenas os excertos/trechos escolhidos das músicas foram a inspiração para aquela pequena parte do conto.
Longas Palavras Perdidas (Parte 10)
"Eu não me lembro do momento que eu tentei esquecer. Eu perdi-me" - Letra da música.
Música:
– A sério que queres fazer isso? – O amigo estava surpreso.
– Sim.
– Mas tu ainda gostas dela?
– Não, meu, mas ela sabe o que eu fiz. E eu também sei o que ela fez.
– Ela matou mesmo a Mariana?
Rafael não respondeu à pergunta. Continuou, simplesmente.
– Ela roubou. O pai nunca soube nada. Ela fazia pequenos furtos.
O amigo afirmou com a cabeça, compreendendo.
– Tentei esquecer do momento em que ela quis roubar dentro da prisão onde o pai trabalhava.
– Ela quis isso?
– Sim. Por causa de mim ela descobriu tudo o que se passava neste bairro. Diferente da Mariana, ela conseguia viver aqui.
– O pai dela é guarda prisional. Ela sabe viver no meio de bandidos.
– Pois sabe. – Rafael fez uma pausa – Ela sabe tudo por causa de mim. Acabei por ser mais violento e viver mais no crime por causa dela. Eu não era assim. Eu roubava, mas não era algo sério.
O amigo riu-se.
– Sim, tu mudaste um bocado, sim.
– Eu não mudei. Eu perdi-me. Perdi-me por causa dela. Perdi-me ao tentar esquecer do momento em que ela me pediu para fazer algo mais ilegal ainda. E perdi-me também quando eu tentei lembrar-me do que esqueci.
"Eu jogo até eu cair, eu brilho até eu cair" - Letra da música.
Música:
A fama parece ser efémera, mas não quando se morre. Os artistas parecem ser eternos quando morrem. A vida na terra é que é efémera, no céu tudo parece para sempre. O Rafael sempre pensou nisto. Rappers como Tupac Shakur e Notorious B.I.G. continuavam a ser eternos. As suas músicas continuavam a passar nas rádios, de forma esporádica, mas sempre lá presentes. Um artista que acabe no limbo é esquecido. Um artista que se envolva nas drogas é esquecido. Mas um artista que morre, de forma trágica ou não, será sempre lembrado. A morte será, no fim, uma bênção? Ele não sabia como responder a essa pergunta, talvez porque nunca tinha morrido.
Mas ele sabia de uma coisa: A fama é apenas efémera se não lutares, se não caíres em más tentações. Porque até na morte estás no topo.
"Cuidado com as minhas rimas, ainda te dá um enfarte." - Letra da música.
Música:
– Já saíste?
– Sim, Filipe.
– Liberdade condicional?
– Não. Estou em liberdade. Mesmo em liberdade.
– Ouvi que tens feito rap no xadrez.
– Sim, espero conseguir encontrar uma editora.
– Tu sabes que temos uma editora aqui. Vais fugir dos teus amigos?
– Eu sei o que vocês fizeram. – Pausa – Como soubeste disso?
– Disso o quê?
– Do rap.
– A tua mãe contou a toda a gente. Está toda contente com o seu menino músico.
– E eu serei.
– Tu andaste a fumar erva lá dentro, ou o quê?
– Não se pode fumar lá dentro. – Respondeu, inocente.
– Não me faças rir. Ela passa lá dentro sim.
– Que eu saiba nunca estiveste preso.
– Estive sim, por tráfico de droga. Acabei em prisão domiciliária.
Pausa.
– Voltaste a falar com a miúda?
– Nunca mais falei com ela.
– Fazes bem. Depois de teres sido preso, ela acabou por ficar aqui com um outro gajo.
– Quem?
– O André. Toda armada em não me toques e no fim acaba na cama com outro gajo daqui do bairro. Sabes que ela anda a ser falada por aqui, não sabes?
– Não.
– A tua mãe não te disse nada?
– Eu preferi que ela não me falasse nada.
– Acho que fizeste bem. Podias ficar mais marado. Mas ela anda por aqui a rondar com ele. Ainda namoram. Acho eu.
O rapaz afirmou com a cabeça.
– Fica bem, João.
O Rafael abanou a cabeça. Ele lembrava-se agora claramente desta conversa. O Filipe era ele. Rafael Filipe. Ele tinha falado com o João quando ele saiu da prisão. O André foi um outro rapaz que namorou com Mariana. A Joana tinha razão.
– Sim, Filipe.
– Liberdade condicional?
– Não. Estou em liberdade. Mesmo em liberdade.
– Ouvi que tens feito rap no xadrez.
– Sim, espero conseguir encontrar uma editora.
– Tu sabes que temos uma editora aqui. Vais fugir dos teus amigos?
– Eu sei o que vocês fizeram. – Pausa – Como soubeste disso?
– Disso o quê?
– Do rap.
– A tua mãe contou a toda a gente. Está toda contente com o seu menino músico.
– E eu serei.
– Tu andaste a fumar erva lá dentro, ou o quê?
– Não se pode fumar lá dentro. – Respondeu, inocente.
– Não me faças rir. Ela passa lá dentro sim.
– Que eu saiba nunca estiveste preso.
– Estive sim, por tráfico de droga. Acabei em prisão domiciliária.
Pausa.
– Voltaste a falar com a miúda?
– Nunca mais falei com ela.
– Fazes bem. Depois de teres sido preso, ela acabou por ficar aqui com um outro gajo.
– Quem?
– O André. Toda armada em não me toques e no fim acaba na cama com outro gajo daqui do bairro. Sabes que ela anda a ser falada por aqui, não sabes?
– Não.
– A tua mãe não te disse nada?
– Eu preferi que ela não me falasse nada.
– Acho que fizeste bem. Podias ficar mais marado. Mas ela anda por aqui a rondar com ele. Ainda namoram. Acho eu.
O rapaz afirmou com a cabeça.
– Fica bem, João.
O Rafael abanou a cabeça. Ele lembrava-se agora claramente desta conversa. O Filipe era ele. Rafael Filipe. Ele tinha falado com o João quando ele saiu da prisão. O André foi um outro rapaz que namorou com Mariana. A Joana tinha razão.
Espero que tenham gostado!
A conversa entre João e Filipe (Rafael) aconteceu na parte 4, para quem quiser reler. A conversa apenas foi copiada para esta parte 10.
Ou seja, o Filipe é, na verdade, o Rafael. Não há uma outra personagem, sempre foi ele. Já tinham descoberto isto?
A verdade já está toda exposta, falta ligarem os pontos.
O que pensam que é?
A próxima parte será postada em breve!
😮
ResponderEliminarOi, Diana!
Estou espantada, pensando: "Como isso é possível?"
Será que o João não percebeu antes, na conversa da parte 4 mesmo, que o Filipe era o mesmo Rafael? Como ele não percebeu? Ele não teria visto o rosto do outro rapaz durante aquela conversa?
Isso me deixou ainda mais embaralhada. :)
Não, eu ainda não tinha descoberto isso de o Filipe com quem o João conversou lá na parte 4 era o mesmo "ex-amigo" dele, o Rafael.
Lerei a próxima parte para ver se esclareço isso. :)
Boa noite. Bom final de quinta-feira!
Olá, Rose!
EliminarBem, na verdade, a confusão foi para os leitores. O João sabia desde o começo, mas ele tratava o "amigo" pelo segundo nome.