segunda-feira, 20 de maio de 2019

A Última Ceia - Conto

Olá, Pessoal!
Deixo o conto "A Última Ceia", inspirado na pintura "A Última Ceia" de Leonardo da Vinci.

Capa de "A Última Ceia"

Leonor olhou atentamente para o cálice. O vinho rosé tremeluzia à luz do candeeiro da sala. Então, alguém iria traí-la naquela noite. Quando soube por Nicole, nem quis acreditar. Estava já tudo estudado entre seis das doze jovens. A Júlia, a mais nova, traria os cálices. Na verdade, até faria sentido tendo em conta que ela sempre pedia para a Júlia fazer-se de escrava. E só de pensar que ela salvou-lhe a vida numa das festas da irmandade e conseguiu que ela não comesse um bolo com vestígios de amendoim, algo que Júlia era alérgica.
A Raquel levaria a bandeja para a sala, seguida pela Júlia, que se voltaria a sentar no seu lugar.
A Olívia falaria com Leonor, distraindo-a de alguma troca existente entre cálices e de um piscar de olhos entre Raquel e Irina, que serviria as treze pessoas presentes.
Claro que Leonor trocaria de cálice com a sua colega do lado direito, Juliana, tal como sempre faz. Ou seja, Juliana receberia o copo com o veneno, primeiramente.
A última a "trabalhar" no meio de toda esta traição seria Carlota, que retiraria vestígios de impressões digitais depois de Leonor cair no chão, morta. Até que faz sentido, ela é filha de um agente de autoridade.
– Raquel?
Olívia olhava para a colega, preocupada.
– Adormeceste?
Leonor abanou a cabeça.
– Não.
Antes de trocar o cálice com Juliana, Leonor dirigiu-se para todas.
– Eu sei que uma de vocês irá trair-me hoje. Mais do que todas as outras, sei que uma foi a mente diabólica no meio de tudo isto.
As doze olharam umas para as outras. Nicole, que avisou a "vítima", também fez o seu "teatro".
– Serei eu, Leonor? – Inquiriu Alice, uma das mais antigas da irmandade.
Leonor olhou atentamente para a colega. Não respondeu. Apenas ergueu o cálice e virou-se para Juliana.
– Irei trocar o meu cálice com a Juliana, tal como sempre fiz. – Leonor trocou o cálice com a Juliana – Mas queria que todas vocês também o fizessem. Queria que todas vocês trocassem os cálices com as vossas colegas do vosso lado direito. Ou seja, em vez de apenas eu e a Juliana trocarmos de cálice, queria que o meu cálice fosse para... – Leonor olhou para Olívia – ... a Olívia.
Todas olharam umas para as outras, mas fizeram o que Leonor pediu. O cálice de Juliana, era agora o de Leonor, mas, diferente do que deveria acontecer, o cálice de Leonor era agora o de Olívia, o cálice de Alice era agora o de Juliana, assim como Alice teria agora o cálice de Irina. Irina pegou no cálice de Raquel, que tinha o cálice de Júlia.
Todas as jovens ficaram caladas por breves segundos. Ninguém quis mexer no seu cálice. Algumas pareciam pensativas. Queriam saber onde estaria o cálice envenenado. Tinham medo de morrer.
Nicole olhou atentamente para o seu cálice e, de seguida, para o de Olívia, a sua colega com quem ficou com o cálice. Júlia tossiu, incomodada. Leonor olhou para ela.
– Tens a certeza onde colocaste a bebida envenenada?
Júlia fez um sim com a cabeça, pouco convicta.
– Sou eu que tenho, certo?
Júlia voltou a afirmar com a cabeça. Leonor levantou o seu cálice.
– Então, vamos beber!
Júlia respirou fundo. Foi a primeira a pegar no seu cálice e a beber. Estava entre a Raquel e uma outra das jovens e bem longe da possível troca com o cálice envenenado. Júlia sabia que teria que existir várias trocas de cálices para que o indesejado chegasse a si. Nada lhe aconteceu. Raquel seguiu a atitude de Júlia e, com a mão direita a tremer, começou a beber. Também nada lhe aconteceu. Irina e Alice foram as próximas, assim como outras colegas. Nada lhes aconteceu. Curiosamente, Nicole, Olívia e Juliana foram as últimas a beberem o cálice, assim como Leonor, que esperava que todas bebessem para ela poder beber. As três tinham medo da troca que fizeram. Leonor olhou para Juliana.
– Não trocámos o cálice?
– Sim. – Respondeu ela, com a voz a tremer.
– Então sabes que nada te vai acontecer.
– Não tenho a certeza, Leonor.
Leonor riu-se.
– Ora, pensa.
Todas se calaram. Leonor respirou fundo, chateada.
– Se não querem beber, bebo eu.
Leonor deu um gole na bebida. Nada lhe aconteceu.
Juliana, Olívia e Nicole olharam-se. Só bastava elas. Uma delas tinha o cálice envenenado.
Juliana tocou com os lábios no líquido do cálice. Nicole cheirou o vinho. Olívia olhou atentamente para a cor. Juliana bebeu um gole, com coragem. As outras jovens olhavam, preocupadas e atentas. Nada aconteceu a Juliana. Leonor sorriu, vendo o pânico no rosto das suas duas últimas colegas. Nicole encheu-se de coragem.
– Leonor, eu contei-te a verdade, então acho que eu não tenho o cálice envenenado.
Olívia olhou para Nicole.
– Eu conversei com a Leonor o tempo todo. Sempre estive ao lado dela.
 – A enganá-la! – Acusou Nicole.
– Chega! – Leonor travou a discussão. – Bebam!
Nicole e Olívia beberam ambas ao mesmo tempo o cálice. Olívia, quase de imediato, escorregou da cadeira e caiu morta no chão. Todas as outras raparigas olharam para Leonor, que apenas se virou para Nicole, a sorrir.
– Podes beber o teu vinho à vontade. Sei que foi a Olívia que te contou dessa possível traição. – Leonor virou-se para as outras raparigas – Se tentarem matar-me novamente, ou quem pensar em fazê-lo, irá jogar novamente nesta mesa.
Leonor levantou-se da cadeira e saiu da sala. Nicole respirou fundo, aliviada de não ter sido ela a morrer. Júlia olhou para Nicole.
– Como é que a Leonor soube quem foi a criadora desta ideia? E como é que ela conseguiu saber que o veneno estava naquele cálice?
– Não sei... Mas quero descobrir.
Juliana interrompeu.
– Eu acho que sei.
Todas olharam para Juliana, atentamente.
– A Leonor trocou o cálice com o meu antes de fazer a troca. Lembram-se? Ela quis exemplificar.
Raquel começou a pensar.
– Isso significa que a Leonor ficou com o cálice envenenado quando todas trocámos o nosso. E a pessoa que estava no lado direito da Leonor era a Olívia.
– Bastante inteligente. Nenhuma de nós reparou nisso. – Comentou Nicole.
– Nem eu percebi. – Falou Juliana, respirando fundo.
As restantes doze terminaram de beber o cálice, com o cadáver branco de Olívia no chão da sala.
Quem cria um jogo, joga-o.


Espero que tenham gostado.
Não sei se irei alargar este conto e fazer algo maior. Terei que pensar sobre isso...

1 comentário:

  1. Oi, Diana.
    Eu gostei muito do conto, achei muito bem sacada a ideia e muito bem elaborada. Intrigante.
    Falando em Leonardo da Vinci, eu sou alguém que aprecia a arte de Leonardo da Vinci e de alguns outros artistas, sobretudo pintores, renascentistas, então quando vejo algo relacionado, paro logo para ver mais, seja ouvindo, vendo ou lendo.
    Desejo uma boa semana para você. 🌼

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