quinta-feira, 2 de julho de 2020

Longas Palavras Perdidas (Parte 12)

Olá, Pessoal!
Deixo-vos a parte 12 do conto Longas Palavras Perdidas.

OBS: Fiquem atentos ao narrador e tentem entender o mistério o mais rápido que conseguirem.
Avisando ainda que apenas os excertos/trechos escolhidos das músicas foram a inspiração para aquela pequena parte do conto.


Longas Palavras Perdidas (Parte 12)

"Neste cruel jogo infantil não há um amigo para chamar o nome dela" - Letra da música.

Música:




Ele caminhou, desamparado, pelas ruas. A vida tinha sido tão cruel para ele. Preso por tráfico de droga. Sendo o causador da morte de uma pessoa. Se ele soubesse que a Joana iria matar a Mariana nunca teria deixado a rapariga andar assim, sem ser vigiada. Que tremendo idiota!
Em vez de a ajudar, deixou o João tornar o coração dela mais frágil, deixou que ela sonhasse com ele, deixou que tudo isso acontecesse à sua frente. Namorar com a Joana também não deveria ser a melhor ideia, mas enfim... Agora não se podia voltar atrás. Estava tudo feito.


"Amor nenhum" - Letra da música.

Música:




Ele poderia ficar triste. Ele poderia ficar revoltado. A Mariana poderia ter gostado dele, poderia ter entendido que ele é que era a pessoa certa. Mas preferiu o outro. Preferiu aquele que a levou à morte. A vida dele poderia ser uma merda, mas ela não sabia nada sobre ela. Ele já foi ao inferno e voltou, foi preso, fumou umas ervas estranhas. Hoje as noites dele são passadas a ler uma bíblia às escondidas dos colegas. Ele pensava mais do que esquecia. O dinheiro sempre fala mais alto do que fazer mal a um gajo que vive no bairro com eles. Eles até podiam querer pô-lo na cadeia novamente, mas ele sairia como uma fera.
No fim de contas, ele já não tinha amor nenhum. A única que podia mudá-lo era ela. Mariana. E essa morreu.

"Quando o silêncio é rei o resto é dispensável" - Letra da música.

Música:




Ele chegou a casa e abriu um pequeno caderno. Começou a escrever.

"Poderia ter te dito o que sentia. Poderia ter te dito o que se passava à minha frente. Mas preferi ficar calado. Preferi ver-te a morrer do que salvar-te. Eu sei que sempre olhavas para mim a querer esquecê-lo. Não sei que feitiço é que ele te mandou, mas gostaria de o ter tido para que pudesses hoje estar viva. Tínhamos tantos gestos esquecidos que reconhecíamos de cor. Queria que tivesses dado um tempo e foi isso que pedimos, um tempo juntos e apenas nós. Queria apenas que tivesses visto a minha mão carinhosa e estendida para ti. Talvez hoje as coisas fossem diferentes. Eu nunca estive longe, eu não esquecia. Peço desculpa por ter-te deixado cair. Agora sobra o silêncio. Quando o silêncio é rei o resto é dispensável, não é? Não é?"

"Em pé na tua frente a dizer que lamento muito por aquela noite" - Letra da música.

Música:



Várias boas memórias dos dois surgiu na mente de Rafael. Bons momentos. Momentos em que ele a levou até a um restaurante chinês e ambos quase morreram com o picante. Momentos em que ele a presenteava com flores. Momentos em que eles visitavam museus e exposições. Ela gostava disso, embora ele não soubesse nada daquilo. Para ele ver uma pintura de Salvador Dalí não lhe dizia nada, mas ela ficava sempre maravilhada.
Mas também lhe passaram as más memórias. Quando ela o culpou de quase morrer quando sabia que ela era alérgica a nozes. Quando ela deitou umas flores que ele lhe tinha dado para o lixo com a desculpa que tinham morrido. Quando ela ficou triste por ele não ter comprado o anel caríssimo de uma marca que ela adorava. Mas ele era apenas um gajo do bairro. Ela era uma rapariga rica.
Mas nada importava agora. A única coisa que importava era viver em frente. Viver em frente e esquecer o passado.
No fim de contas já não poderia ficar em pé na frente dela para lhe dizer que lamentava muito por aquela noite.
Já nada valia a pena, porque a morte tinha feito o seu trabalho.

"Eu voo como papel" - Letra da música.

Música:



Aquele assalto. Aquele assalto que ele iria fazer com o João e com outros "amigos". Aquilo foi a melhor resposta. É certo que a Mariana morreu, mas aquilo levou à morte de uma pessoa insignificante. Pelo menos ninguém esteve presente para perceber que alguém conseguiu tornar-se reconhecido fora do bairro.
Ele não se importava. Não se importava minimamente. Aquela arma guardada e escondida nas calças de André tinha sido abençoada. Aquele tiro tinha sido bem dado.
Ele não se sentia culpado. Ele sabia que foi o melhor que fez. Ele ficou calado. Assim como esteve com Mariana.
No fim de contas, a vítima era a pessoa que tinha mais dinheiro ali. E também era o mais armado em santo.

"A verdade está confusa, mas as mentiras estão claras" - Letra da música.

Música:



Joana, presa, pensava sobre o que tinha feito. A verdade estava a sair debaixo do tapete e ela sabia que o Rafael iria trazê-la a público. As mentiras sempre foram claras para todos, mas a verdade sempre foi confusa. Talvez agora, com a prisão dela, a verdade pudesse ser revelada. Ela sabia que podia contar com ele.
O Rafael iria restaurar a verdade. Ele iria trazer a verdade sobre o João a público.

***

Na prisão, André pensava na mesma coisa. O Rafael iria finalmente tomar uma atitude. Não ficaria calado. Ele iria finalmente trazer a verdade. O João não sairia impune. Não na verdade dos homens.


Espero que tenham gostado!
Uma parte mais depressiva e dramática. A Mariana está morta e há culpas para dar.
Ideias sobre o que é o mistério?
E alguém entendeu aqui alguma revelação? Não está muito exposta, mas...

A próxima parte será postada em breve!

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