terça-feira, 7 de março de 2023

Opinião: O Segredo Angolano, de Velho Kipacaça

 Olá, Pessoal!

 Hoje publico mais uma nova opinião a um livro.

 Aviso - Pode conter spoiler.

Capa do livro

Informações:

 Título: O Segredo Angolano
 Autor: Velho Kipacaça
 Tipo: Romance
 Género: Thriller
 Editora: Edições Vieira da Silva

Opinião/Resenha:

 "O Segredo Angolano", de Velho Kipacaça, é um thriller passado em Angola.

 Nós, leitores, iniciamos a leitura com o prefácio, escrito por Vera Rodrigues, que faz uma introdução sobre o que leremos nas próximas páginas do livro. Traz uma imagem sobre o enredo da obra e conta que Kahadi, o protagonista, é familiar para quem leu os dois primeiros livros publicados antes de "O Segredo Angolano". Esta questão não faz diferença ao novo leitor que surge apenas neste terceiro livro (falo por experiência própria).

"A morte não tem significado para quem já tenha cumprido com o seu propósito" - Velho Kipacaça

 O autor, antes de iniciar os capítulos, refere que o livro é uma obra de ficção inspirada em personagens e histórias reais. A trama principal acontece numa terça-feira e termina numa quarta-feira de 2016. As outras cenas são argumentos para sustentar o enredo e permitir que os leitores tenham acesso a dados históricos de forma detalhada para que, no fim, tenham uma percepção geral da história.

 A leitura do enredo começa com a preâmbulo, que ocorre no ano de 1918, numa quarta-feira. Temos narração em terceira pessoa, porém com um narrador próximo do leitor, falando diretamente para quem lê. O Reino de Matamba atravessava momentos conturbados com as frequentes guerras travadas contra os invasores. Ngola Mbande, o rei, recebe um convite para uma negociação de paz e aumentou as suspeitas de que os portugueses o queriam morto. Ele não calculou as consequências ao enviar a irmã Nzinga Mbande Cakombe como peão para ser crucificada. Ela vai do Reino de Matamba até Loanda, com alguns vassalos. Angola já não seria a mesma terra. Estava destinada a mudar e começaria pelas mãos daquela mulher. Pelo caminho, que durou mais de 4 dias, o autor descreveu como se encontrava tudo naquela época. Uma descrição sólida e bem escrita. Por fim, chegam ao Monte de São Paulo. Tudo termina quando a mulher revela o seu nome. Aqui temos a realidade a unir a ficção. Durante a leitura, relembramos a imagem que surge nos livros de História onde temos uma mulher sentada em cima das costas de um vassalo, numa reunião entre ela e os colonizadores portugueses.

 No primeiro capítulo estamos em Luanda, em 2016, na terça-feira e, para quem não conhece Kahadi dos anteriores livros, temos agora a sua breve apresentação. Claro que, ao longo do enredo, o leitor vai conhecendo mais sobre este protagonista. Ele é um jovem adulto que trabalha como técnico de informática e de operações da EMI, uma empresa que soa ser de fachada. Tem uma avó chamada Ana Ebo que sofre de Alzheimer, diagnosticada há um ano. Foi uma mulher linda, muito ativa e participativa na vida política de Angola. Esteve presente na multidão quando o primeiro presidente Bento Descendente proclamou a independência do país. O Estado falhou com ela colocando-a como antiga combatente e a receber uma pensão de apenas 23 mil Kwanzas.

Reflexão sobre o que fazer, a dualidade

 Ela contava sempre uma história ao neto, onde pedia para que ele encontrasse as pesquisas de um antigo amigo dela, que era escritor e que fazia parte de um grupo de nacionalistas, assim como ela, que tudo fizeram para libertar Angola da repressão colonial. Na história, Ana Ebo contou que alguns deles os traíram, porque quiseram criar um país diferente. Aqueles que exigissem um país independente eram vistos como revolucionários e eram mortos. Devido a isso, o escritor tinha medo que outras pessoas descobrissem sobre o paradeiro dos membros que estavam infiltrados e escondeu as pesquisas.

 Kahadi sempre ouvia esta história, mas, inicialmente, não acreditou nela já que, devido ao Alzheimer, ela poderia estar a sonhar. É nesse dia, ao ir para o trabalho, que acaba por perceber que, talvez, a avó tivesse razão. Ao ir à sala do chefe para entregar os relatórios, ouve uma conversa entre este e um homem de que haverá o verdadeiro motivo da morte do primeiro presidente de Angola, Bento Descendente.

 O oficial seria de que Bento Descendente teria morrido de complicações cirúrgicas em Moscovo, Rússia, porém, enquanto todos parecem aceitar essa resposta, a única filha do antigo presidente, Irina Descendente, acredita que o pai foi morto.

 Kahadi acaba por entender que a verdade seria realmente essa, quando acaba envolvido no meio de um político corrupto, de um assassino em série russo e de uma organização chamada Bantu. A avó dele acaba por entrar na chantagem usada pelos conspiradores, levando o protagonista a escolher entre a familiar que mais ama na vida, ou revelar a verdade.

Reflexão sobre o homem achar-se um ser superior

 Pelo meio da investigação encontramos bispos, arcebispos, conhecemos a vida amorosa de Kahadi, incluindo Chance Kano, uma famosa jornalista, vemos referências a outros artistas e obras, conhecemos mais sobre Angola com uma descrição bastante bem escrita, desvendamos, juntamente com o protagonista, enigmas escritos em forma de poesia e temos leves críticas à sociedade, incluindo racismo e política misturada com religião.

 A trama contém 46 capítulos, incluindo preâmbulo, prefácio, notas do autor e agradecimentos distribuídos por 387 páginas. Quanto ao tamanho da obra, o leitor não precisa de se incomodar, são capítulos curtos que têm uma personagem em foco em cada um deles que se leem com rapidez. Contém notas de rodapé e linguagem russa, kimbundu e braille, que traz tradução.

 O escritor escreve de forma não linear, onde cada capítulo parece separado dos restantes, se lido de forma singular, em que temos uma personagem com maior protagonismo, porém, se formos uni-lo com o capítulo seguinte, existe uma revelação, fazendo uma junção entre os dois. É uma leitura interessante que leva o leitor a ler o próximo capítulo, querendo encerrar o segredo deixado pelo anterior.

 Nas notas, o autor refere quais foram os momentos verídicos e os ficcionais do livro, revela que foi escrito no manto de muitas dúvidas, sendo até desencorajado em escrevê-lo, mas os "sussurros" levaram-no a fazer, conta que pesquisou bastante e que chegou a conversar com vinte anciões para trazer alguma maior realidade à obra e salienta que a trama é um "texto criativo, resultado de uma imaginação livre e que não corresponde à realidade, apenas baseia-se nela para compor os diversos capítulos".

 É um enredo com bastante ação, totalmente indicado para leitores que apreciem conspirações, segredos, organizações secretas, assassinos em série, armas, enigmas em forma de poesia e traições.

 Todo o leitor angolano que aprecie thrillers deve ler esta obra, além de leitores portugueses que queiram conhecer mais sobre Angola, mas, ao mesmo tempo, que goste de policiais onde tenham personagens com ascendência portuguesa e também é indicado para leitores brasileiros, já que até o Brasil é mencionado no enredo.

 Concluindo, é uma ótima leitura para o povo lusófono.

 Termino, agradecendo à representante do autor Velho Kipacaça em Portugal, Vera Rodrigues, que me enviou em formato físico esta obra para ser feita uma crítica/resenha. As fotografias são da minha autoria, devido a este envio.

 Pontos Fortes:
 - Boa narração.
 - Boa descrição.
 - Boa mistura entre realidade e ficção.
 - Capítulos curtos com suspense (não assustando o leitor com o grande número de páginas).

 Pontos Fracos:
 - ...

Nota (0 a 5 Estrelas):

⭐⭐⭐⭐⭐


 P.S - Esta opinião é apenas de uma leitora, assim como a nota de 0 a 5 estrelas que eu dou. Outros leitores poderão ter uma opinião diferente.

 Links para obter a obra: Wook ; Fnac ; Editora.

 Sobre o autor: 

 
 Velho Kipacaça, pseudónimo de Lady Francisco Mukeba, nascido a 4 de fevereiro de 1991, é um exímio comunicólogo, que usa a oralidade e a escrita como principais ferramentas para transmitir os seus pensamentos e contribuir para a formação de vários indivíduos da sua sociedade.
 É mestrando em Marketing, Publicidade e Comunicação Empresarial, licenciado em Ciências da Comunicação, Especialista em Ciência Política, Marketing Digital, Marketing Político Digital, Assessor de Imprensa, professor de Marketing Digital e pioneiro na criação de cursos de Marketing Digital em Angola.
 Fruto das suas habilidades em Marketing, o seu trabalho contribuiu para a vitória de Luís Larama na primeira edição do Big Brother Angola 2014, a vitória de Sandra Cordeiro, na categoria de AfroJazz do Angola Music Awards em 2014, e na vitória de Marcelina Gonçalves, nos prémios Moda Luanda 2019, categoria de Apresentadora Magazine da Atualidade em 2019.
 Atualmente, é professor de Guionismo no IMETRO, Coordenador de Marketing na TV Zimbo, Diretor de Marketing & Vendas na empresa GeniusIdeas e sócio em alguns projetos de comunicação e Marketing. Da sua experiência profissional, destaca-se a passagem pelas agências de marketing ZWELA e Uanda onde acumulou experiência profissional para complemento do seu conhecimento nessa área. Prestou serviços em grandes empresas angolanas como consultor de Marketing. Entre as quais, destacam-se o Porto de Luanda, Ministério dos Transportes, Banco Sol & Associadas, e o Standard Bank de Angola.
 Sendo um dos vencedores do concurso "Eu na TV", organizado pela Semba Comunicação, granjeou o gosto pelo jornalismo, tendo sido formado, posteriormente em Jornalismo televisivo no Cenjor, em Portugal.
 Lady Francisco Mukeba já publicou dois livros, considerados best-sellers angolanos, no mercado angolano e brasileiro, intitulado O Vendedor de Esperanças vol. 1 e 2. Em outubro do ano 2020 lançou um livro técnico Guião de Marketing em Portugal e Angola.

2 comentários:

  1. Oi, Diana.

    Passando apenas para te desejar um feliz Dia Internacional da Mulher! 🌹💐

    E sobre o post em questão: Parece-me um ótimo e bem-escrito livro! (Parabéns ao autor!)
    Parabéns pela resenha e que seus trabalhos sejam reconhecidos, é o que eu desejo para ti!🎈

    Um beijo! 💋

    ~Cartas da Gleize. 💌💕

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    Respostas
    1. Oi, Rose!
      Obrigada :) É reciproco.
      Feliz Dia Internacional da Mulher (mesmo atrasado).

      Eliminar

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