Ser jovem e mulher é uma desvantagem?

 

   Ser jovem e mulher é uma desvantagem. Não é uma pergunta, é uma afirmação.

   Quando decidi criar a Revista Rabisca, eu tinha o objetivo de unir e expandir a língua portuguesa e eu sabia que eu iria contra ideias preconceituosas, retrógradas e que iria contra pessoas com mentalidades ultrapassadas. Eu sabia disso e tinha clara consciência da dificuldade que seria criar uma revista nestes moldes.

   Antes disto, eu tinha publicado dois livros e estes dois livros foram criticados por muitos autores mais velhos, que se diziam mais "experientes", sendo que muitos deles nem livros publicados tinham. Fizeram parte de inúmeras antologias e criticavam várias editoras pela sua forma de trabalhar, mas não mexeram um dedo para fazerem mudanças.
   Ok, talvez os meus dois livros não tenham realmente qualidade ou potencial, porém eu trabalhei o meu melhor para que eles fossem publicados.

   Há um ano eu criei a Revista Rabisca. Eu sabia a realidade da literatura no ramo lusófono. Não vamos dizer que fui sonhadora demais, eu tinha os pés assentes na terra. Porém, quando digo que o meio editorial não é um mar de rosas, não estou a falar apenas de editoras. Falo também de autores. Descobri que tive autores que só enviaram textos porque achavam que a revista não era assim "tão importante" e nem se deram ao trabalho de comprar a revista para lerem o seu texto publicado.

   Senti que o facto de ser jovem foi um meio que usaram para dizerem que a revista era pouco interessante. Mas, além disso, usam o facto de ser mulher. Há uma descrença surreal, mas que é vista como normal. Olham-nos com uma piedade que não consigo entender, olham-nos a achar que somos umas sonhadoras. Não há respeito como profissional e, da parte de alguns autores, não há credibilidade. Há uma visão de piada. A Revista Rabisca é "o sonho de uma jovem sem futuro".

   Realmente, o sonho foi publicado (o que é triste para alguns), mas falarem mal de uma revista sem sequer a terem comprado para conhecerem o seu interior é, no mínimo, ridículo.

   Eu não aceito e nem vou ler qualquer crítica feita à revista por nenhuma pessoa que não tenha comprado nem sequer uma única edição.

   E dito isto, obrigada a todos que ainda se importam com a Revista de alguma forma. Quanto aos outros... autores que mandam texto apenas porque "a revista é pobrezinha, é um sonho e tenho que ajudar a esse sonho", têm sorte que o vossos textos são interessantes. (In)felizmente, eu ainda posso fechar os olhos a essa coisa de separar autor da obra, mas vocês enojam-me.