sexta-feira, 21 de dezembro de 2018

O Disfarce Natalício

Olá, Pessoal!
Deixo um conto que fiz para o Desafio de Dezembro do grupo da página Ficwriter Facts.

Informações:
- Título: O Disfarce Natalício

Sinopse: Graça nunca gostou do Natal. Não gostava do velhinho de barbas brancas. Não gostava da festa, das ruas decoradas, do espírito natalício. Cresceu sem necessitar de fazer árvore de Natal. Porém, o sobrinho nasceu, cresceu, tornou-se uma criança e a história do Pai Natal começou a surgir. A mulher tinha agora duas opções: Obrigar o sobrinho a não gostar do Natal ou conviver com o que não gostava.
Género: Drama.
Número de palavras: 1.006. (OBS: O número mínimo de palavras para este desafio era de 1000).

Capa de "O Disfarce Natalício"

Fazia frio naquela tarde. Era quase Natal. Luzes acesas na sala a fazer calor. Um aquecedor à entrada, porém não aceso.
– “Não te disse para falares com ele?”
– “Temos que parecer despreocupados. Se fizermos alguma coisa suspeita, eles vão atrás de nós. Somos mortos.”
– “Mortos? Impossível”.
A mulher de cabelos pretos compridos estava a olhar para a televisão, sentada no sofá. Passava um filme com legendas no canal. Conseguia ouvir o sobrinho rir de outra divisão da casa. Graça sorriu, enquanto tentava continuar com atenção ao filme.
– Isto não. – Disse a irmã dela.
A mãe e o filho viam as bolinhas de Natal para decorar a árvore. Tinham comprado no dia anterior.
– Esta bola ficava bem na árvore. – Disse a mãe, a irmã de Graça, ao rapaz.
– Achas que sim? – Perguntou o menino.
Graça perdeu totalmente a atenção no filme. Agora, ouvia atentamente a conversa entre mãe e filho na cozinha. Massageou as pernas. Estava a sentir frio.
– Claro que sim, Alex. Ficava muito bonita. É vermelha com pintas verdes, estás a ver?
– Sim.
– Vai lá colocar na árvore.
O rapaz surgiu na sala. Graça viu o sobrinho.
– Tia, gostas da bola? – O menino aproximou-se da tia.
– Sim, querido. – Respondeu ela, a olhar para a bola.
– Não sei se ficava mesmo bem na árvore. – Disse ele, com um olhar triste.
– Por que não?
– Porque assim a bola fica suja.
Graça sorriu.
– Não tem mal, querido. Essas bolinhas são para pendurar nas árvores de Natal para elas ficarem todas bonitas.
– E vai sujar.
– Vai, Alex, mas é a função delas. Elas têm que ser penduradas nas árvores. E vai ficar bonita lá, não achas?
O rapaz afirmou com a cabeça e pareceu sorrir.
– Está bem.
Graça viu o sobrinho de seis anos colocar uma bola de decoração na árvore de Natal.
– Tia, gostas?
Graça sorriu.
– Sim, querido.
O rapaz afastou-se da árvore e sentou-se ao lado de Graça no sofá da sala.
– Será que vamos ter muitas prendas este ano, tia?
– Não sei, querido.
– Eu queria aquele jogo, mas não sei se fui bem comportado.
– Claro que foste!
Fez-se uns segundos de silêncio, antes do rapaz voltar a falar.
– E temos de limpar a chaminé, tia.
– Para quê, querido?
– Para o pai Natal não se sujar.
Graça fez um ar assustado.
– Como é que sabes isso?
– Falaram na escola.
– O pai Natal não existe, Alex.
– Mas os meus amigos dizem que sim.
– Mas é mentira.
O menino ficou triste. Saiu da sala e deixou a tia sentada no sofá, perdida em pensamentos.

Fazia frio na noite do dia vinte e cinco de Dezembro de 1994. Graça tinha quatorze anos. Era uma adolescente rebelde que nunca gostou do velhinho de barbas brancas que lhe chegava todos os anos a casa. Graça nunca gostou do Natal. Viu o filme “Grinch”, naquele ano, e depressa se identificou com o personagem principal. Não conseguia acreditar que com aquela idade os seus pais ainda não lhe tinham desfeito o sonho dos jovens receberem presentes de um velhinho gordo. O pai Natal não existia. O pai Natal não existe. Já nem na escola, entre os seus colegas de turma, falavam desse engano. Graça sempre foi contra o Natal.
Nessa noite, a mãe deixou-a ficar acordada até tarde. Não deveria ter ficado. Hoje, Graça arrepende-se. Eram vinte e três horas. Ela sabia que uma hora depois chegaria o pai Natal. Foi à cozinha e resolveu esconder uma faca entre o pijama e o robe, enquanto enganava os pais dizendo que ia comer uma fatia de bolo de chocolate. Ao regressar à sala, a mãe obrigou-a a deitar a irmã de nove anos na cama dela. Enquanto fez isso, o pai saiu de casa. Graça regressou à sala e viu um filme de animação no sofá com a mãe. Após acabar o filme, olhou para o relógio. 00:00. Tocaram à campainha. A mãe foi atender. O pai Natal tinha chegado. Graça continuou sentada no sofá. Estava chateada. O velhinho entrou na sala com o seu som irritante e sentou-se no sofá ao lado dela, colocando o seu saco no meio das pernas.
– O que vai ser este ano? – Perguntou ele.
Graça encolheu os ombros.
– Portaste-te bem, não foi?
Graça continuou calada. O pai Natal decidiu, então, voltar a falar.
– Senta-te aqui. – Apontou para o seu colo.
Graça sentou-se, de mau grado. A mãe dela olhou, séria.
– Foste boa aluna?
– Acho que sim. Dá-me sempre prendas.
– E merece, sim.
– Mas eu não sou boa aluna.
– És sim.
– O que quer de mim? Vem sempre aqui em casa e nunca pede nada em troca.
– Querida, é o pai Natal. – Disse-lhe a mãe.
– Não, não é! – Gritou a Graça, tirando a faca e espetando-a no peito do disfarçado pai Natal.
A mãe dela gritou. Graça continuou a esfaquear o pai Natal.
– Graça, não! É o teu pai!
A jovem puxou a barba falsa do homem. Era o pai dela. Levantou-se do colo dele e largou a faca no chão. A irmã chegou à sala e começou a chorar. Graça também ficou apavorada. Tinha acabado de esfaquear o pai dela. Pior do que isso, tinha acabado de o matar. E ela não fazia ideia.

Depois dessa situação, passou vários anos numa casa de correção e o Natal, para ela, se já não era bom, nunca mais foi o mesmo.
– Graça. – A irmã chamou-a – Estavas a dormir acordada?
A irmã tinha entrado na sala e sentado no sofá ao lado dela.
– Desculpa, estava a pensar.
– Sobre o pai Natal?
Graça ficou séria.
– Sim.
A irmã respirou fundo.
– Imagino.
– Desculpa. Faz-me confusão o Alexandre gostar do pai Natal.
A irmã demorou a responder ao comentário de Graça.
– Eu percebo.
– Acho que nunca superei o que aconteceu.
– Pois. – Respondeu a irmã. Era a única coisa que conseguia dizer.
Graça tossiu. Estava a começar a sentir-se incomodada. A irmã decidiu voltar a falar.
– Prefiro que ele goste e que depois ganhe um desgosto do que odeie.
Graça afirmou com a cabeça.
– Tens razão.
A irmã sorriu.
– Feliz Natal!
– Feliz Natal!

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