Olá, Pessoal!
Aqui está o Desafio de Setembro da página Ficwriter Facts.
Informações:
- Para o Desafio de Setembro - Trata-se de escrever uma one-shot (história com apenas um capítulo) com no máximo 5.000 palavras abordando algum ponto de diversidade. De diferentes sexualidades e cores de pele às múltiplas culturas do mundo. De diferentes géneros a diferentes vertentes ideológicas. Diversidade por fora e por dentro da cabeça dos personagens.
- Título: Matando os preconceituosos demónios
OBS: Teve alterações em Setembro/Outubro de 2018
Nem Fábio sabia o poder que os beijos de Micael tinham sobre ele. Micael sabia como fazer Fábio falar. E, naquele momento, sozinhos e isolados de um mundo tão cruel, era o momento exacto para isso.
Os dois estavam cansados e com a respiração audível. O mais pequeno movimento era percebido por ambos.
Mentiras. Mentiras e falta de confiança eram os grandes problemas entre os dois!
No dia anterior, Micael tinha saído para jantar com um amigo e nem imaginou o que isso gerou em Fábio. De um idiota apaixonado, que "saiu do armário" há pouco tempo, a um amante descontrolado. Micael era o namorado de Fábio há nove meses. Micael era de estatura mais fraca e menos larga que Fábio. Com vinte anos saiu de casa dos pais depois destes não aceitarem a sua orientação sexual. Nunca mentiu sobre quem era, nunca se escondeu e nunca deixou que o maltratassem fosse por ser homossexual, fosse por ser negro. Micael era seguro de si mesmo, diferente de Fábio. Fábio tinha descoberto que era homossexual quando se apaixonou por um antigo colega de turma, que nunca soube que ele era gay. Pode-se dizer que Fábio continua a ser uma pessoa insegura e com medo de ser traído. Fábio era um homem calmo, mas perdia as boas maneiras quando se sentia enganado. Micael nunca poderia enganá-lo, ou tentar enganá-lo. Fábio nunca toleraria isso. Mas, desta vez, Micael também não toleraria que a sua lealdade fosse posta em causa. Fábio tinha passado dos limites, acusava-o toda a hora, gritava descontrolado, nem sequer controlava os seus próprios movimentos.
Naquele momento, parados na sala de estar, encararam-se em silêncio. Quem estava errado? Quem estava certo?
Micael vê, de relance, Fábio aproximar-se dele como um animal arrependido pelos seus actos.
- Não dá. Não dá mais. - Disse Fábio passando as mãos pelo cabelo enquanto olhava para Micael com os olhos castanhos apertados.
- Como assim? - Perguntou Micael, sem entender o que estava a ouvir. Fábio estava finalmente a ceder?
- Tu, tu, Micael. - Respondeu Fábio, mais uma vez, acusando o namorado.
- Como se fosse eu o culpado! Conviver contigo não é agradável. - Atacou Micael.
Como resposta, Micael sentiu o corpo de Fábio colar-se ao seu. Para infelicidade de Micael, o namorado não tinha nenhuma intenção, além de magoá-lo novamente.
- Larga-me! - Gritou Micael, afastando-se de Fábio.
- Olha para ti! Estás uma lástima!
- Olha, Fábio, o nosso namoro acabou há meses. Desde a primeira desconfiança tua. Nenhum de nós é que se deu conta.
Micael encostou-se à parede e desceu até ao chão, agarrando as suas pernas. Estava indefeso, mas queria optar por manter uma posição de defesa.
- Não! Nós sabíamos disto. - O namorado contrariou-o. Micael não lhe respondeu e Fábio aproximou-se dele novamente.
- Afasta-te! - Reagiu ele.
Não valeu de nada. Fábio envolveu-o com os seus braços e levantou-o do chão. Micael debateu-se, mas foi impossível. Fábio era mais forte que ele.
- Pensas que vou me sacrificar por ti? Chega! Passei por muito para ser feliz. "Saí do armário" há vários anos e consegui ter a minha liberdade e viver bem com a minha vida. Só quero ser feliz sem ninguém a apontar-me o dedo e a dizer que sou preto e que sou gay. Duas coisas que me fazem viver no inferno!
- E pensas que eu não passo por isso? - Disse Fábio, com um ar ameaçador. - Eu passo por isso! Não sou de raça negra nem saí há vários anos do armário, como tu dizes, mas passo todos os dias a sensação de que estou a ser enganado.
- Chega! - Micael gritou. - Não foste enganado e eu estou a sofrer todos os dias.
Ele arregaçou a manga da camisa e revelou várias manchas na pele negra.
- Eu não sou mais esse homem, Micael. - Disse Fábio, sem se revelar menos ameaçador. - Eu amo-te!
- Chega deste jogo! É o fim! - Exclamou Micael, defendendo-se, mas, rapidamente, ele viu-se atirado para a beira do sofá.
- Cala-te! Tu não sabes como é ser traído!
- Eu não te traí. - Respondeu Micael, tentando defender-se como podia.
- Não é o que parece! - Fábio aumentou o tom de voz.
- E o que vais fazer? Vais apenas falar ou espancar-me?! - Atirou o namorado.
- Não! Tenho outros planos.
Fábio pegou em Micael ao colo. O homem reclamava e gritava para que Fábio o largasse, mas não conseguia ter força o suficiente para fazer tal coisa. O namorado possessivo colocou-o no chão quando ambos se aproximaram-se do carro de Fábio e empurrou-o para dentro do automóvel.
- O que vais fazer?
Fábio não respondeu. Foi para o lugar do condutor e começou a viagem. Micael, desta vez, descontrolou-se. Sem ter qualquer resposta por parte do namorado, atirou-se ao volante tentando tomar a direção do carro, inutilmente. Para conseguir um maior controlo, Fábio pisou fortemente no travão para que Micael receasse pela sua própria vida, já que estava sem cinto de segurança e não olhava para os pés do namorado, resguardando-se com antecedência de alguma atitude por parte de Fábio. A verdade é que o pior aconteceu. Micael, sem qualquer proteção, atravessou o vidro do carro parando apenas quando encontrou o solo.
- Micael! - Gritou Fábio, saindo desesperadamente do automóvel. Ele não esperava que Micael estivesse tão desprotegido.
O homem encontrava-se esticado no meio do chão com sangue em todas as partes visíveis do seu corpo. Claramente sem vida.
- Meu Deus! Perdoa-me, amor! Eu não queria... - Ele segurou a mão do seu, agora, ex namorado.
A sua raiva inicial tinha sido transformada em culpa. Tinha medo de perder Micael. O simples facto de ele sair com um ex transformou-se num oceano de preocupações onde não havia culpado, mas sim vitimas.
Fábio dirigiu-se ao carro procurando com as suas mãos, agora trémulas, uma antiga arma que trazia debaixo do banco do pendura. Aproximou-se do corpo sem vida de Micael e apontou a arma em direção ao seu peito. O tiro foi dado.
Esta foi a forma que Fábio resolveu terminar as coisas, terminar o relacionamento. Não poderia viver mais com alguém que o fazia mal, que não o tornava seguro de si mesmo.
Os corpos de Fábio e Micael permaneceram ali, até que a policia chegasse e investigasse o caso.
A verdade é que não se sabe o que realmente aconteceu. Até hoje, a causa da morte do casal de namorados é desconhecida. Será que um deles matou o outro? Será que foi suicídio por parte de ambos? Ninguém sabe. A única pista que a policia possui é um simples papel branco encontrado na casa de ambos onde manchado com o sangue de Micael estava escrito um nome conhecido por parte dos namorados, o ex colega de turma de Fábio por quem Fábio estava apaixonado quando descobriu ser homossexual, Valentim.
Este pequeno conto dava para uma história/estória grande.
Talvez pense em alargar isto!
Espero que tenham gostado!
Oi, Diana!
ResponderEliminarPuxa vida! Estou chocada aqui! História surpreendente que me prendeu até o final.
Digo que fiquei chocada porque não esperava esse fim, que o casal de namorados morressem no final, porém isso foi o que tornou a proposta da história e do final chocante, emocionante, inesperada e reflexiva, por parte do mistério que ficou no ar ao término do conto.
Parabéns, muito bom texto! Eu achei!