O texto de hoje é diferente. Gostaria de fazer uma breve apresentação sobre sonhos e depois falar sobre a realidade.
Todos sabem que me chamo Diana e que sou da turma nascida na década de 90, mas talvez poucos saibam que ouço mais música da década de 80 do que a de 2000... ou que eu prefiro os clássicos aos contemporâneos... ou que eu não gosto da "geração do tik tok".
O meu primeiro sonho irreal era ser atriz, ganhar dinheiro e com ele levar a minha mãe à DisneyLand Paris e oferecer um carro todo de gama ao meu pai. Esse sonho foi apagado após o início do secundário. Gostaria de ter ido para uma escola de atores, mas isso não aconteceu. Antes disso, tive uma professora de teatro a dizer que eu não seria "boa o suficiente" para seguir o ramo.
O meu segundo sonho irreal era ser guionista/roteirista. Mas é um circulo tão fechado. Conseguir uma oportunidade é como conseguir encontrar uma agulha num palheiro, ou chover em Julho em Portugal. É raro, pode acontecer, mas é quase impossível. Sim, tive algumas oportunidades. Raras.
Antes disso, quis criar uma revista literária. Isso aconteceu! Mas... não correu como eu esperava.
Também quis publicar um livro, e isso realmente aconteceu. Eu era uma pré-adolescente profundamente perturbada e a escrita era um momento de refúgio. Mas com o tempo percebi alguns erros nos dois livros.
Pouco depois, a ideia de criar uma editora surgiu. Comecei a perceber como funcionava o mercado editorial e vi que havia falta de alguma coisa. As ideias surgiram, uma atrás da outra, e percebi que deveria alargar a ideia além fronteiras, queria acrescentar os PALOP.
Falei com algumas pessoas que iriam trabalhar comigo e comecei a construir essa ideia, comecei a torná-la "palpável".
Porém, percebi em Setembro de 2024 que esse sonho não iria para a frente. Tive que abandonar mais um sonho. E desta vez seria mais triste, porque já tinha ido além. No entanto, pelo que sei, alguém com mais experiência pegou na ideia da leiga (ou seja, eu) e eu espero, com sinceridade, que a editora seja um sucesso, porque iria dar-me uma felicidade saber que uma ideia que começou por mim foi além e deu certo com alguém mais qualificado.
Bem... Há sempre momentos em que temos que dizer adeus e há adeus mais difíceis do que outros. A verdade é que chega sempre aquele momento das nossas vidas em que mudamos de ar, ou de áreas. Queremos retardar o inevitável, porque temos formações e tentativas, mas ao mesmo tempo há dinheiro gasto, horas perdidas, negas e falta de apostas.
O meu momento chegou agora, depois de toda esta explicação inicial. Sairei da área literária e do audiovisual.
É uma área em que estamos constantemente a lutar connosco próprios, seja devido ao tempo, ao mercado de trabalho, ou à saúde mental. Dizem para seguirmos os nossos sonhos, mas romantizam demais o caminho para que ele se concretize. Nos dias que correm, infelizmente, a formação vira pó, se não tiveres experiência desde o berço. Mas o irónico na questão é como ter experiência se não temos ninguém a dar-nos essa oportunidade. Trabalhamos muitas vezes "pro bono", à borla, gratuitamente, com a desculpa do "vou ganhar experiência", mas mais tarde começas a perceber que ninguém aposta realmente em ti.
Foi difícil tomar esta decisão, mas foi pensada com cuidado. Deixar um sonho é algo que já estou habituada. Formar-se em algo que não se vai exercer é chato e triste, caso seja um sonho. Quanto a mim, deixo esta área que me é querida, mas que não me dá conforto mental (além do financeiro). Levo comigo contactos e, acima de tudo, pessoas interessantes. Agradeço a cada autor que conheci nesta jornada, além de editores, leitores, revisores, designers e críticos literários e também ao pessoal do cinema.
Aproveito para referir também que abandonarei a área do audiovisual. Onde Está Deus 2 não me terá como guionista, mas poderão ver o primeiro filme em breve. Agradeço ao António Guimarães pela loucura de aceitar uma portuguesa na produção. Foi um prazer trabalhar em Onde Está Deus. Considero que falar sobre Deus é um desafio enorme para um guionista. Agradeço pela confiança!
Quanto à literatura, o blogue irá tornar-se privado, não podendo ser lido pelo público. Pretendo "apagar" de alguma forma o meu passado como escritora e isso envolve o blogue.
O terceiro livro não será mais publicado e tenho ainda exemplares dos meus dois primeiros livros que posso oferecer (talvez faça um preço "simbólico" devido aos portes de envio, fiquem à vontade para me enviarem uma mensagem privada).
As minhas críticas literárias serão apagadas da internet (claro, com o blogue privado não tem como estarem online).
A Revista Rabisca vai permanecer parada. A minha conta de autora permanecerá aberta, porém terá mudanças. No entanto, permanecerei por aqui em contacto.
Gostaria de finalizar dizendo que foi um percurso com altos e baixos. Sorri, ri, chorei, revoltei-me, mas, no fim, não sobrou muita coisa que me fizesse ficar e permanecer a lutar. Este meio é fechado demais para se conseguir qualquer coisa.
Obrigada a todas as pessoas que me ajudaram, a leitores e autores que ajudei e a colegas. A vida é uma estrada cheia de curvas... ou melhor, terminarei com uma frase que eu própria escrevi acerca de uma personagem presente no primeiro livro (alguns irão reconhecer).
"A vida é feita de escolhas, mas existe sempre uma terceira opção" - Capítulo 23, A Escola do Terror.
(Eu não pensava que, em algum dia, me iria identificar com esta frase que tinha escrito precisamente a pensar numa personagem).
Obrigada.
7 de Janeiro de 2025.