terça-feira, 26 de julho de 2016

Desafio de Março

Olá, Pessoal!
Tal como tinha falado anteriormente, aqui está a minha presença no Desafio de Março da página de Facebook Ficwriter Facts.

O Desafio de Março era "escrever uma cena ou história curta (com pelo menos 200 palavras) sobre a mulher retratada". O tema era "Mulheres" e não se podia "afastar muito do tema".

OBSERVAÇÃO: Participei neste desafio até ao último dia.


"Foi ontem um dos piores dias da vida da minha irmã. Desde nova tinha o sonho de casar numa bonita igreja rodeada de um marido maravilhoso e com amigos e familiares orgulhosos. Com vinte e dois anos imaginava estar a namorar com um homem incrível. Até eu imaginava que ele era um homem simpático, atencioso e que a amava. Mas ele não era bem assim.
Ele fez com que ela deixasse de ser virgem aos vinte anos, após ter começado um relacionamento com ele em apenas dois meses. E, embora tivesse sido o primeiro indício de que ele não era a melhor pessoa para ela, ninguém entendeu! Quem iria acreditar que um jovem adulto de vinte e um anos, na altura, que estudava na faculdade de Direito com ela iria ser um completo idiota? Que iria fazer a minha irmã sofrer?
No dia do casamento, estava ela a dizer o tal “sim” ao padre com um ar sorridente quando ele acaba lhe dando uma facada nas costas dizendo que a estava traindo com uma colega da faculdade. A minha irmã chorou o resto do dia, inconsolável.
E, quando finalmente conseguiu se recompor, a primeira coisa que falou foi “Porquê? Ele sabia que eu queria casar. Viu que as nossas famílias estavam lá. Viu que todos estavam à espera de um bonito casamento!”.
Foi nesse momento que tive a ideia mais incrível de sempre para fazê-la sorrir. No dia seguinte estaríamos à mesma hora no local da igreja e iríamos simular o casamento dela. O casamento que ela tanto ansiava. E esse dia foi hoje!
Eu não minto. Ela realmente chorou, mas foi de felicidade. Houve brincadeiras, risos e até tiraram fotografias. Todas elas tinham a minha irmã a chorar, mas há uma... há uma que eu amo de alma e coração. Eu e a minha irmã sentadas num banco com a cabeça e os cabelos loiros pintados dela colados ao meu rosto. Ouvi ela sussurrar-me um “obrigado”, mas ela não precisava. Na verdade, eu só precisava do sorriso dela. E foi isso que eu tive no fim desta tarde."


"Sou uma jovem estudante que estava a fazer um trabalho para o dia da mulher. O trabalho consistia em tirar fotografias a mulheres de várias idades, classes sociais, raça e cor de pele. Pensava que seria um trabalho fácil de fazer, mas eram onze da manhã e eu só tinha quatro fotografias de mulheres com idades entre os vinte e os quarenta. Pior ainda, eram todas de classe média alta julgando que eu iria colocar as fotografias delas numa revista da Vogue. Talvez essa tenha sido a razão de elas me autorizarem em tirar uma fotografia dos seus rostos maquilhados. Mas enfim... tendo eu começado a minha caminhada pelas ruas de Lisboa às nove da manhã, penso que o meu trabalho iria acabar apenas na minha mente.
Estava a passear por um bairro numa rua humilde quando vejo uma mulher de cinquenta ou sessenta anos sentada num banco a atirar pão a um bando de pombos. Era a senhora que eu desejava para terminar o meu trabalho. Não necessitava de mais ninguém. Parecia ter um ar sereno e calmo, mas pareceu assustar-se quando viu que eu me aproximei dela.
- Desculpe incomodá-la. Estou a fazer um trabalho para o dia da mulher e gostaria de lhe tirar uma fotografia. Poderá autorizar-me?
A senhora idosa sorriu para mim e levantou-se do banco. Não passou a mão no cabelo, o que me deixou admirada. As quatro mulheres que me deixaram tirar fotografias se aperaltaram arrumando os cabelos e a roupa. Esta humilde senhora apenas se levantou e afirmou que eu poderia lhe tirar uma fotografia.
- Obrigada. – Disse eu, após ter a minha fotografia – Feliz dia da mulher para a senhora.
Afastei-me a sorrir. Já não estava desmotivada. A idosa senhora tinha melhorado o meu humor.
Feliz dia da mulher para todas aquelas que nos ajudam a crescer. Feliz dia para mim que aprendi mais um pouco neste dia."


'“Se é o que tens que fazer, Esmeralda, tu és forte!”
Disse eu mentalmente, depois de limpar as minhas lágrimas com um lenço de papel branco. Estava prestes a sair da casa de banho para encarar o mundo preconceituoso.
Era o dia do meu casamento. Já estava vestida e pronta para chegar à igreja, mas necessitei de uns momentos para mim. Tinha onze anos quando viajei de Angola para Portugal. O pós 25 de Abril de 1974 levou muitos angolanos a viajar para a antiga metrópole. Eu fui uma das crianças que viajou nessa altura. Hoje tenho vinte e cinco anos.
Nunca achei que a vida fosse injusta comigo. A vida ou as pessoas. Por ser de raça negra, sempre sofri de algum preconceito. As crianças são um pouco cruéis, mas quando se é estrangeiro as coisas tornam-se mais difíceis. Quando terminei o meu ensino secundário, entrei numa faculdade de medicina onde acabei por conhecer um colega que era filho de um grande empresário português. Não foi preciso muito tempo para ouvir pessoas dizerem que eu estava com ele por dinheiro. Na verdade, nunca estive. A minha família sempre foi humilde e trabalhadora. O meu pai trabalhou para os portugueses quando Angola ainda era uma colónia. Nunca tive preconceito. Mas as pessoas nunca acreditaram em mim... ou quiseram acreditar.
Hoje é o dia em que irei “responder” a todas as pessoas que me trataram mal. Ninguém acreditava que eu iria casar-me com este homem, mas este tornou-se o dia que eles menos ansiavam. A notícia iria aparecer nos jornais diários portugueses, nas revistas de fofocas, enfim... em todos os meios de comunicação. Uma mulher angolana casou-se com o filho de um milionário empresário português.
Após pensar nisto, sorri confiante e caminhei para a igreja.'"


"Era apenas uma quarta-feira normal e cansativa. Dirigi-me à sala trinta e três onde decorriam sempre as aulas de teatro. Na noite anterior eu e os meus colegas tínhamos ido representar para uma quantidade de gente uma peça baseada numa das obras de William Shakespeare. Eu não tinha tido um papel muito importante na peça, mas isso não me deixava triste, pelo contrário, nunca gostei do mundo da representação. Contudo, fui obrigada pela minha mãe a participar nessas aulas totalmente gratuitas para os alunos devido ao facto de eu ser muito tímida. Confesso que me ajudou um pouco, embora não goste.
Não dei muita importância aos agradecimentos da professora sobre o nosso bonito trabalho na noite anterior. Aliás, pouco ouvi o que ela dizia. Mas dei por mim a dar-lhe atenção após ter ouvido o meu nome.
- Anita! A menina ouviu o que eu disse?
Abanei a cabeça, um pouco envergonhada.
- Desculpe, professora. Não percebi.
- Vai ser a protagonista nesta nova peça: Branca de Neve.
Ergui uma sobrancelha. O quê? A ruiva tímida e antissocial iria ser a Branca de Neve conhecida por ter cabelo preto e ser branca? Não falei, mas pensei que a professora tinha ficado definitivamente maluca.
- Acho que a menina fez um excelente trabalho ontem. Todos os seus colegas concordaram comigo e vai fazer uma nova versão da Branca de Neve.
E lá estava eu semanas depois com o meu cabelo dividido ao meio parecendo a Píppi, aquela personagem bem conhecida criada por aquela autora sueca, e com uma maçã na mão a representar para umas quinhentas pessoas. Via a cara de orgulho da minha mãe a comentar para duas desconhecidas que estavam ao lado dela nas cadeiras do público que eu era a sua filha. Não é preciso nem dizer, mas passei, sem sombra de dúvidas, uma das maiores vergonhas da minha vida.
Mas concordo com a minha mãe numa coisa: posso até nem gostar de representar, mas após aquele dia em que me “mascarei” de Branca de Neve, a ruiva tímida deixou mais um pouco de o ser."


"Eram vinte e três horas na cidade de Newcastle em Inglaterra. Um empresário alto, musculado e com idade por volta dos trinta anos, apressou-se a sair do clube de strip para entrar na limusina que havia pedido para lhe trazerem minutos antes.
O automóvel escuro passeava pelas ruas obscuras da cidade até chegar a uma mansão enorme.
O condutor baixou o vidro do carro e passou uma chave pelo leitor. Os portões da mansão abriram-se em seguida e o automóvel parou à porta da garagem. A pessoa saiu do carro e olhou em volta.
Estava toda vestida de preto, com um chapéu, luvas e uma camisola que lhe fazia tapar os lábios. Estava frio.
Percebeu que a mansão estava protegida por uma vedação que fazia com que os vizinhos não pudessem saber de nada do que ocorria ali dentro. Uma câmara de vigilância estava à entrada da porta. Era impossível o condutor ser visto a olhar para a câmara já que não estava perto do local. Não que isso fosse importante, a pessoa sabia que a câmara estava desligada naquele momento.
Abriu a porta traseira do carro e não dirigiu uma única palavra ao homem.
- Obrigado. Podia ligar à minha empregada? – Perguntou o empresário, abanando a cabeça depois – Desculpe, esqueci-me que essa mulherzinha está a tomar conta do marido. Traga-me um café ao meu quarto quando colocar o carro no lugar. Pago-lhe mais um pouco por esse serviço. Depois de me dar o café pode ir embora.
O homem caminhou até casa sem dar tempo de resposta ao empregado. O condutor dirigiu o carro para dentro da garagem e, quando terminou esse serviço, foi à cozinha. A casa era espaçosa: grandes corredores, cinco quartos, cozinha, três salas...
Demorou apenas uns quinze minutos até ter o café pronto. Depois, atravessou um dos corredores com uma bandeja na mão. A pessoa sabia onde se encontrava o quarto do patrão.
- Ah, obrigado. – Disse o homem, assim que viu o seu café a vir até ele.
Sentou-se na cama e bebeu um gole, deitando-se de seguida ainda com a gravata colocada ao pescoço. Segundos depois, já estava a dormir num sono profundo. Nesse momento, o condutor retira o chapéu e revela a cabeleira. Era afinal uma mulher loira. Baixando um pouco a camisola, conseguia-se ver os seus lábios pintados de uma cor preta.
Afastou-se por breves segundos do quarto do homem que havia adormecido e regressou com uma arma branca. A mansão era de um conhecido empresário que praticava esgrima. Recentemente, estava sendo suspeito de um caso de abuso sexual, mas que juiz iria dar razão à pobre mulher?!
E foi assim que ela apareceu. Ela era essa mulher, e teria que fazer justiça pelas próprias mãos. Apunhalou o homem apenas uma vez no lugar do coração. Não precisou de mais. O agressor estava morto. O seu trabalho estava feito. Tinha acabado de vingar a morte de muitas outras mulheres que tentaram fazê-lo pagar pelos seus crimes. Se ela não o matasse, seria ela a morrer pelas mãos dele.
Saiu do quarto, atravessou o corredor e abandonou a mansão do homem de forma lenta. Não tinha pressa. A jovem sabia que a polícia iria encontrar o empresário morto muito mais tarde.
Voltou ao carro e saiu pelos portões da mansão. Iria queimar a chave da casa assim que chegasse a um sitio onde pudesse estar segura.
Respirou fundo e colocou um CD a tocar, cantarolando baixinho.
Ao lado do local onde tinha estado guardado o CD, podia-se ver um simples recorte de jornal que dizia: “O empresário Jonathan Smith foi considerado inocente do crime de abuso sexual”'


"Não fui ensinada para seguir aquilo que eu queria. Confesso que não. Acho que era contra as regras, devido ao facto de ser filha de um conhecido empresário português. Terminei os meus estudos no ensino secundário com nota máxima. Sempre me tinha sido impingido para seguir as pisadas do meu pai. Deveria ir para uma faculdade de Direito, ser uma ótima aluna e ir em estágio. Mas não era isso que eu queria. Nunca me interessei a estudar direito, nunca me interessei a ir para uma faculdade e muito menos me interessei em virar empresária. Mas os meus pais pensavam que essa minha atitude era apenas para os contrariar (que era, afinal, o que a maioria das estudantes gostava de fazer). 
A minha mãe, uma antiga atriz, também queria que eu fizesse um curso de teatro... e foi isso que eu fiz quando ainda estava no ensino secundário. Admito que até aos meus vinte e dois anos nunca me opus ao nível de crueldade que os meus pais me tratavam. Fiz exatamente tudo aquilo que eles queriam: terminei o secundário sendo a melhor aluna, entrei para o quadro de excelência, tive uma boa colocação numa das melhores faculdades de Direito de Lisboa e fiquei lá três anos com notas acima da média. Mas, com a chegada dos meus vinte e dois anos, tudo mudou. Sem o consentimento dos meus pais, fiz um curso de cabeleireira. Nem sequer lhes disse na altura que após os meus dezoito anos não precisei de ir ao cabeleireiro porque era eu mesma quem cortava a minha própria franja. Só souberam disto quando o meu pai descobriu por um colega da empresa que eu tinha estado a comprar uma casa numa rua humilde de Lisboa, longe do barulho e do trânsito. Nesse dia, estava já a preparar as minhas coisas para sair de casa. Os meus pais, provavelmente, nunca me desculparam por esta minha atitude. Talvez tenham ficado no início muito surpreendidos e só depois é que se revelaram chateados.
Mas até hoje nunca mais quis saber deles. Eles não me ouviram quando eu dizia que queria fazer algo diferente. Não iria alterar nada agora com vinte e seis anos e já com casa e trabalho num salão de cabeleireiro.
Ainda há quem me pergunte se sou a tal “filha do empresário”. Como não tenho nada a esconder, revelo que sim. Nunca vou negar as minhas origens, independentemente do quanto eu esteja magoada com os meus pais. Mas agora... agora sou livre!"


"Nunca pensei que fosse impossível superar um amor. Passaram-se cinco anos desde a última vez que a vi. Loira, de pele branca e que gostava de andar sempre com vestidos floridos, fazendo com que ela parecesse uma menina e não uma mulher. Ela era uma sonhadora. Gostava de desenhar e escrever. E recordo-me que, muitas vezes, era eu a sua inspiração.
Estou há algum tempo, algumas horas a encarar o relógio. Desde as duas da manhã que não conseguia dormir e agora eram seis horas. Tentei adormecer, mas não conseguia. Simplesmente, não conseguia!
Na cidade, ouvi que a Clara iria voltar. Sozinha, sem os pais. No dia anterior tinha recebido um cartão escrito com a letra dela, dizendo que queria voltar a ver-me. Nem que fosse uma última vez. Nós não nos tínhamos despedido da melhor forma há cinco anos atrás. Ela nunca foi muito boa com despedidas. Acho que ninguém é. E como ficámos os dois devastados, a Clara decidiu não me dizer absolutamente nada. Agora, ela tinha vinte e um anos. Idade o suficiente para seguir a sua vida longe da crueldade dos pais, que a fechavam em casa e não a deixavam conviver com pessoas da idade dela.
Ela deveria ter ficado comigo, na cidade. Deveria ter continuado com o seu sonho de escrever e desenhar. E eu tinha quase a certeza que os pais a obrigaram a não continuar.
Ironia do destino ou não, a verdade é que ela aparece na minha vida fazendo exatamente a mesma coisa de quando decidiu desaparecer: escrevendo-me um cartão. Quando terminou a relação comigo, ela tinha escrito apenas que as coisas não poderiam continuar, que iria partir. Um dia depois, ela e os pais saíram da cidade. Desde esse dia nunca mais a vi. E o meu coração ficou despedaçado.
Agora estou eu aqui, perto do lago onde costumávamos nos encontrar no passado, a tentar encontrá-la. Não demorei muito. Ela estava sentada numa pedra, de costas para mim, com os pés na água a desenhar algo num caderno. Estava mais alta e mais bonita. Aproximei-me lentamente e pousei a mão num dos seus ombros. Ela virou o rosto e sorriu.
– Estás a desenhar algo? - Perguntei.
– Sim, nunca parei. Tinhas razão. Os meus pais iriam proibir-me de desenhar e escrever. Mas eu decidi continuar a ser aquela menina. Isto que estou a desenhar foi inspirado em ti.
Sorri ao ouvir as palavras dela.
Fiquei o resto da manhã ali, com a Clara. Esqueci-me do passado. Afinal, tinha acabado de me dar um novo futuro. Um novo futuro ao lado dela. A menina que eu sempre amei."

Neste Desafio de Março acabei por vencer o primeiro lugar:


Créditos das imagens: Ficwriter Facts.

Postarei os restantes desafios que participei em breve.

Beijos.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Obrigada pelo comentário, a sua opinião é importante para o escritor.

Avisos:
1- Não costumo responder pelos comentários. Deixe um link do seu blogue, ou contacte-me pelas minhas redes sociais presentes aqui.
2- Caso necessite de resposta, eu responderei pelos comentários, porém deixarei a minha resposta apenas durante algum tempo indeterminado. O Blogger ainda faz contagem de comentários do próprio autor e, como sabe, faço sempre uma retrospectiva todos os anos. Não se esqueça de clicar no "notifique-me" para que receba notificação sempre que eu responder ao seu comentário.