sexta-feira, 19 de outubro de 2018

Desafio de Setembro

Olá, Pessoal!
Participei no Desafio de Setembro e terminei agora o post para vos divulgar os meus pequenos textos.
O desafio foi escrever drabbles (textos entre as 100 e as 200 palavras) respeitando o desafio pedido.

Créditos a Ficwriter Facts

Escreva uma drabble (entre 100 a 200 palavras) em que o seu personagem realiza um sonho.

"Aconteceu mesmo. É a noite derradeira. Dezanove horas e estou sentado entre duas pessoas. O indivíduo da minha direita começa a falar sobre os sucessos do seu trabalho. O público ouve, atento. Está uma sala acolhedora. Apenas a última fila encontra-se vazia. O calor humano já se faz sentir. Algumas pessoas começam a subir as mangas das camisolas. Eu estou tão nervoso que o calor nem chega ao meu corpo. Estou a suar frio, a tremer.
A pessoa da minha esquerda começa a falar, depois de se ouvir palmas. Confesso que fiquei com vergonha. Tanto elogio. Se fosse eu a falar de mim, não diria metade daquelas palavras.
Ouço novamente aplausos. É a minha vez. Mexo de forma nervosa as mãos, enquanto falo. As palavras começam a sair como um comboio*, a alta velocidade. Já me esqueci que estava nervoso. O povo que me ouvia estava atento. Paro de falar. Ouço palmas, novamente. Sou invadido pelo som.
Tinha acabado de concretizar o meu sonho. Sou um autor publicado."

* Trem no Brasil.

Escreva uma drabble (entre 100 e 200 palavras) em que o seu protagonista enfrenta o maior medo

"O verão, para mim, é o maior tormento. Aventurei-me em ir passar férias numa casa de campo, já a saber que iria passar momentos de inferno. Fui sozinha. Quase me arrependi dessa decisão. O primeiro dia foi bom. Os restantes dias também. A primeira noite foi péssima. As restantes noites também. De dia, janelas abertas. De noite, acordada, com as janelas fechadas, a morrer de calor.
Mas uma noite, ganhei coragem e fui à caça do vampiro.
Acendi uma luz, depois de ouvir o zumbido do diabo. Levantei-me da cama, peguei numa revista e enrolei-a.
Enchi-me de coragem e, com toda a força, bati com a revista em cima dele. Respirei fundo e afastei a revista. O vampiro morreu contra a parede. Ficou colado. Peguei num papel para o apanhar. A parede ficou manchada de sangue.
Consegui! O vampiro morreu ou, melhor dizendo, o inseto morreu.
Sim, eu tinha medo de insetos vampiros, sugadores de sangue humano. Qual era o problema?"

Escreva uma drabble (100 a 200 palavras) em que o seu protagonista reencontra alguém querido

"Confesso que fiquei duas horas a conversar com o meu colega de turma na rede social Facebook. Falámos de tudo. Foi uma descoberta incrível. Mas melhor do que isso foi descobrir que ele esteve no mesmo colégio onde eu estudei. Conhecia vários antigos colegas de turma que eu tive. Os bons, os maus (não esqueço que sofri bullying no primeiro ano). Mas o melhor foi descobrir que ele conhecia uma colega que foi a minha melhor amiga no colégio. Perdemos contato, após sairmos.
 Sara Mateus. É ela, não é? – Perguntou o meu colega.
 Sim.
A verdade é que reencontrei a Sara. Ele tinha-a como amiga no Facebook. Adicionei-a e recomeçámos a falar.
É claro que, dias depois, reencontrámo-nos pessoalmente, ou melhor, falámos pessoalmente.
Foi um dos melhores reencontros que eu tive. Obrigada, Rodrigo!"

Escreva uma drabble (100 a 200 palavras) em que o seu protagonista sofre uma crise emocional

"Tenho que terminar isto a tempo. Tenho que ver cada erro a tempo. Tenho que terminar bem. Tenho que...
– Estás a terminar o livro?
– Clara, sai daqui! – Atirei a caneta contra a minha irmã. Ela sai do meu quarto a correr.
Olhei para a mesa onde estava a escrever. Não encontro outra caneta para escrever. Olho para debaixo da mesa. Está visto que vou continuar a escrever com o dedo. Olho para a saída do quarto. Não encontro a caneta. O meu telemóvel toca. Aviso de mensagem. Olho para o visor. "Editor".
– Merda!
Escrever, escrever, escrever. Preciso de férias.
Bati com a mão fechada na mesa. Merda! Doeu! Comecei a chorar. A dor física tornou-se emocional. Não consigo terminar isto a tempo.
Apoiei a cabeça na mesa. Acho que vou ter um ataque cardíaco a qualquer momento.
Respirei fundo. Passou? Não sei por quanto tempo."

Escreva uma drabble (100 a 200 palavras) em que o seu protagonista testemunha algo mau a ocorrer

"Nunca conheci pais biológicos. Na verdade, morreram. Andei de psicólogo em psicólogo, fui adotada aos nove anos e vivi amargurada a maior parte do tempo. Não posso culpar os meus pais adotivos de nada. Ajudaram-me em tudo. Mas, aos três anos, tinha assistido ao homicídio da minha própria mãe. Na altura não havia essa coisa de proteger as mulheres. E ainda hoje não há. A violência doméstica ainda está alta. Várias mulheres morrem todos os dias vitimas dos seus maridos. Eu assisti a isso. A cama a balouçar, ele em cima dela, o sangue, o medo, a dor...
Ele foi preso e nunca mais o chamei de pai. Mas, na cadeia, ele não ficou nem dez anos.
Hoje defendo as mulher, porque eu também sou uma, porque eu quero ser livre, porque eu quero viver."

Escreva uma drabble (100 a 200 palavras) em que o seu protagonista lida com crianças

"Nunca conseguiria trabalhar como babysitter.
– Tira a mão daí, Sofia! – Gritei.
Amarrei o cabelo e peguei no João ao colo. Sofia ficou quieta e encolhida. Podia jurar que ela estava prestes a chorar. É certo que me pagam, mas não sei lidar com crianças. Ou, então, estes dois são pequenas pestes.
O João tem dois anos, a Sofia tem cinco. São ambos filhos de uma vizinha. Quando ela está fora, sou eu quem toma conta das crianças.
E eu nunca pensei que tomar conta de crianças fosse tão complicado. Três horas a tomar conta destas pestes. Na verdade, parecem oito, tendo em conta o sacrifício que eu faço. Sempre saio morta.
Nunca conseguiria trabalhar como babysitter."

Escreva uma drabble (100 a 200 palavras) em que o seu protagonista reencontra alguém que não gosta

"Apanhei o autocarro das sete horas, como era habitual. A faculdade era próxima, poderia ir a pé, mas, quando estava calor, preferia não suar.
Sentei-me na primeira cadeira, atrás do condutor e ao lado de uma senhora idosa que apanhava sempre o autocarro àquela hora.
Coloquei os fones e comecei a ouvir música. Avril Lavigne, "How Does It Feel", descrevia-me. Ouvia-a todos os dias. Sempre fui a rapariga estranha. Sofri de bullying na escola, não tinha amigos, problemas familiares...
Olhei para a porta do autocarro. Uma pessoa entrou. Conheço-a. A rapariga que me humilhava na escola. Parece mais velha. Cresceu.
Ela saudou-me. Eu sorri e disse-lhe "olá". Fiquei feliz por ver que ela não tentou conversar comigo e só se foi sentar umas cadeiras atrás. Memórias más surgiram-me na mente. Ela foi tão má. "How Does It Feel" nunca me descreveu tão bem.
"I'm small and the world is big... but I'm not afraid of anything."


Espero que tenham gostado.

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