segunda-feira, 30 de setembro de 2019

Segredos Depressivos de Escritor (Especial Setembro Amarelo)

Olá, Pessoal!
Estamos no Setembro Amarelo, uma campanha criada no Brasil de prevenção ao suicídio, começada em 2015. Em Portugal a campanha Setembro Amarelo começou em 2017.
Acho bom esta campanha chegar e ser abraçada por outros países. Todos nós devemos ajudar o próximo.
Por conta disso, escrevi um pequeno texto (não sei se chamaria de conto, mas penso que conto não será a palavra mais adequada) sobre o escritor e o seu momento depressivo.
O título é "Segredos Depressivos de Escritor". Todos os escritores têm segredos. Todos os escritores têm temas que não gostam de contar por palavras, não gostam de escrevê-las. Eu não gosto de escrever muita coisa de experiência própria. Gosto mais de observar e contar as histórias dos outros, do que a minha própria história. Quando se tenta escrever sobre experiência própria parece que as palavras não surgem "direitas", a caligrafia está pouco legível, faltam palavras, algumas frases parecem não fazer sentido. Um professor de português que fosse pontuar daria menos de cinco valores, porque, sejamos sinceros, a escola ensina-nos o saber, mas muitas vezes não nos ensina o sentir.
Parece que somos "assombrados" pelas nossas memórias e pelas palavras que usamos. Escrever revela muito de uma pessoa, coloca-a a nu, refém do preconceito, refém do bullying.
Já me senti "assombrada", mas não pelos meus próprios segredos. Talvez porque em quase nenhum deles eu deixei que outras pessoas lessem. E se leram foi porque eu nunca falei que foi de experiência própria.
Este texto (e até mesmo a capa que usei) representam coisas muito pessoais para mim. Alguns escritores vão entender o que escrevi porque passaram por isso, outros entenderão porque viram isso acontecer com outras pessoas, outros leitores saberão a dificuldade porque estão desse lado a ver o resultado final demasiadas vezes, já outros podem não saber os sentimentos que este texto tem. Mas eu sei o que escrevi. Passei por isso, vi isso acontecer e sei que não havia nenhuma história (ou estória, se preferirem) que eu pudesse escrever com isto, sem que parecesse confusa e escura que pudesse ser aceite por alguma editora. Na verdade, quando falamos de nós mesmos, as palavras são sempre pouco entendidas pelos outros, mas sempre inspiradas por momentos complicados das nossas vidas.
Este texto reflete diferentes fases da minha vida enquanto alguém que escreve. O encantamento, o deslumbramento, a curiosidade, a morte da minha "inocência", a ambição, a luta, a rendição e o crescimento. Muito provavelmente por esta ordem.
Quando eu escrevi isto, eu chorei e deu-me vontade de gritar (mas contive-me, porque sempre o fiz). Sabia que tinha escrito algo meu, um texto real para mim.
Então... Se quiserem ler realmente o texto (depois de terem lido esta introdução), apenas saibam que agora vocês estão a ler uma coisa real para mim, uma coisa que eu passei.... um dos meus segredos.





Segredos Depressivos de Escritor



Sempre escrevi. Não me lembro de outra forma. Sempre gostei de escrever, porém nunca coisas minhas. Sinto que deixei de escrever poemas muito nova porque senti que, para me tornar mais "real" e fiel a mim mesma, teria que me revelar para o mundo, ou pelo menos para o papel. Sentia medo de mostrar os meus segredos mais profundos. Nunca fui uma pessoa cheia de amigos, sou antissocial e até gosto disso. Talvez por ter um lado ingénuo, eu nunca tentei me aproximar demasiado. Tantas histórias de policial escrevi, cheguei até ao terror. Larguei os romances. Não me sentia à vontade, nunca me senti. Enoja-me escrever sobre duas pessoas apaixonadas, talvez porque eu não sou, talvez porque eu não fui, nunca fui. Não sou adepta de proximidade, sou fria. Talvez por isso eu já tenha pensado que, provavelmente, sou assexual. Mas depois olho para os meus atores favoritos na minha pré adolescência e penso que, se calhar, sou uma heterossexual com uma frieza vinda do pólo norte. Gostar de mulheres também nunca foi uma opção para mim, logo também não posso ser homossexual. Enfim... às vezes sinto que não saí do armário ainda, mas não no sentido de gostar do mesmo sexo, simplesmente não sei onde me enquadrar. Nunca soube onde me enquadrar.
Tive uma colega de turma que escrevia fantasia. Escrevia sobre dragões, bruxas... um género que também não me encanta. Sou sonhadora, imagino muito, mas nunca a ponto de criar universos alternativos. Os meus géneros são o policial e o terror. Gosto muito de descrever mortes, de ver filmes de terror. Já dei por mim a pensar que tenho a mente de um assassino em série. Mas penso que nunca seria capaz de matar alguém. Pelo menos, até hoje.
Há uns anos, acabei por conhecer uma pessoa que escrevia policial. Tive essa curiosidade em conhecer alguém que escrevia o mesmo género que eu. Será que essa pessoa pensava nas mesmas coisas? Acabei por descobrir que não éramos parecidas. Essa pessoa tinha bastantes amigos. Triste. Continuei a não enquadrar-me em nada. Dizem que os escritores têm um pouco de loucos, mas eu de certeza que estava a subir a escala.
Após muito pensar, decidi criar um blogue, a pedido da minha mãe que acabou por ver folhas de um policial na minha secretária. Vergonha. Mal ela sabia que tinha em casa uma sedenta por sangue. A verdade é que o blogue fez-me bem, conheci outros escritores, mas quase todos de romance ou de drama. Ou seja, continuei a ser a "esquisita". Depois, veio a ideia de lançar em livro um dos projetos que teve mais leitores no meu blog. Chegou a fase do encantamento. A primeira editora aceitou-me, mesmo depois de ter pesquisado por outras. Foi maravilhoso. A esquisita que escrevia coisas estranhas foi aceite por uma editora. Deviam estar bêbados. O dia do lançamento foi outro deslumbramento. Foi algo novo. Correu bem, tive as pessoas que quis que estivessem, foi uma noite agradável. Mal consegui dormir nessa noite. Alguns meses depois e essa fase desapareceu. Tinha chegado a morte da minha "inocência". Comecei a divulgar o meu livro a amigos (a poucos), mas quase nenhum quis comprar ou, simplesmente, ajudar-me a divulgar. Esse foi o primeiro choque com a realidade. A vida real não é um mar de rosas. O dia do lançamento era apenas um sonho. Deveria ficar chateada com esses poucos amigos? Não. Deveria ficar triste? Um pouco. Tarde descobri que era realmente antissocial. Nem quase um amigo tive, ou alguém que pudesse chamar assim. Aquela frase feita de os "verdadeiros amigos só aparecem nos piores momentos" era tão real. Por que razão no dia da festa do lançamento estavam alguns lá? Por que razão é que no dia de me ajudarem desapareceram? Ainda hoje tento saber o porquê e não consigo. A divulgação começou mal... e a inspiração também se desvaneceu. Não quis escrever algo de experiência própria, então tranquei-me no meu mundo. Estava tão quebrada que só queria chorar no meu quarto sem que ninguém me visse. Às vezes o meu subconsciente aparecia para me dar a entender que ainda havia coisas boas lá fora. Um livro lançado. Mas olhava para a caixa de papel com ainda 80 exemplares lá dentro. Triste. Mais um passo e já não estava triste pela minha vida como escritora, mas por tudo o resto. A minha vida social, a minha vida profissional, a minha vida pessoal. Também não estavam muito boas.
A depressão deve ter ficado durante uns bons meses, mas sempre tentei retê-la dentro de mim. Consegui algumas vitórias com alguns novos projetos escritos, mas acho que não eram tão bons quanto os anteriores. Dei-me a mais um esforço e, com ambição, lancei um novo livro. Este já numa plataforma online. O segundo lançamento já não era de encantamento, já sabia o que se passava, mas sim de luta. Lutei. Tentei ter ambição. Divulguei. Consegui alguma coisa. Algumas vendas. Mas a depressão continuava lá. Um pouco apagada, mas ainda lá. Desta vez, era o meu subconsciente a dar-me pouco incentivo. Acabei por me render a ele. Deixei de escrever durante um tempo. E eu escrevia todos os dias. Eu começava a perceber que estava numa fase realmente depressiva. Não só a minha vida como escritora começou a declinar, como também tinha problemas com o resto da minha vida profissional e, sem falar, que a minha vida social nem existia (mas até essa, mesmo nunca sendo tão emocionante, nunca me tinha preocupado com ela até aquele momento). Irónico como num momento de depressão até a vida social, com a qual eu não me importava minimamente, começou a ser um problema. Tive uma inspiração cortada e dias tristes e pouco produtivos.
Mas, mais uma vez, consegui, novamente, fazer algo por mim no sentido da minha vida de escritora e voltei a divulgar, voltei a escrever, a pouco e pouco. Mas eu sei que a depressão continua lá e sempre continuará. Não importa o que faça. No entanto, eu sei viver com ela. Pelo menos, no momento.

***

O suicídio não pode ser só preocupante no Setembro Amarelo. Ajudem o próximo em qualquer altura do ano. Preocupem-se com quem está ao vosso lado. Os "sintomas" muitas vezes não são visíveis para quem não está interessado no outro. Uma palavra de conforto já é um bom começo.

1 comentário:

  1. Olá, Diana.
    Só agora, depois de três dias de postado, é que pude vir a ler esse texto seu.
    Gostei muito que você tenha compartilhado algo seu, um dos seus segredos aqui para que leitores e visitantes do seu blog, como eu, que apreciam sua escrita e as coisas que posta aqui, pudessem conhecer um pouco mais sobre você e suas experiências no mundo da escrita.
    P.S.: Sobre o gênero que você escreve e por saber sobre isso: Pelo menos eu, não te vejo e nunca te vi como esquisita. Gosto do seu jeito e de como você é, das coisas e de como escreve... enfim.
    Mas, é difícil mesmo essa nossa vida de escritora. Prosseguiremos!
    Um abraço.
    ~Rose Gleize.

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