Capítulo 1
Muita coisa mudou desde as suas férias de verão: A Marta mudou a sua maneira de ser e pensar e desenhava roupas nos seus tempos livres. Imaginava mulheres confiantes a usar a sua roupa. O seu futuro estava bem delineado. A banda, que havia sido formada nesse ano, tinha terminado, pois nem todos seguiam esse sonho de cantar. Carla escrevia canções e cantava-as colocando os vídeos na Internet a fim de ser reconhecida. Raquel tinha se afastado do canto e das aulas de piano. Estava apenas a esforçar-se para entrar na faculdade. Faculdade essa que nem sabia qual era. Os dois amigos Ricardo e João não sabiam o que fazer. O primeiro tinha feito alguns trabalhos como modelo, já o amigo imaginava psicologia, algo difícil para ele. Os dois ex-namorados Luísa e Luís também não sabiam o que fazer. Luísa frequentava as aulas de teatro e estava indecisa entre seguir hospedaria e turismo ou as artes do espectáculo, já Luís imaginava seguir direito.
Eram apenas oito e meia da manhã mas na aula de História já pairava algum nervosismo. Era impossível falhar. A Raquel tremia a perna enquanto folheava o seu livro de português para se certificar de que memorizava toda a obra de Saramago que iria sair no teste daquele dia, logo após aquela aula. Carla, na fila atrás, escrevia mais uma letra para o concurso de música adolescente que iria ocorrer na escola. A professora olhou para a sua turma com um olhar sério. Pela primeira vez tentavam se esforçar para ter boa nota. Decidiu falar com eles.
– Gosto de vos ver de cabeça nos livros ou a treinar para o futuro. Sabem, vão-se dar mais aulas de preparação para os exames de admissão à faculdade para vos ajudar. Vão ter um professor para vos apoiar mas podem se apoiar mutuamente e assim acabam por passar momentos divertidos.
“Momentos divertidos a estudar para os exames? Só pode ser piada!” – Pensou o Ricardo, lançando um olhar horrorizado ao amigo João, que estava ao seu lado. Nada podia ser divertido ao que quer que fosse relacionado com exames.
– Mas – Continuou a professora – Vocês também podem se divertir de outras formas. Têm o concurso de música adolescente, as aulas de teatro em que todos podem aparecer se assim o desejarem e, ainda vão ter um festival só para alunos do 12º ano que tem a ver com o que vocês acham que vão ser daqui a vinte anos. Têm que pensar em trajes, em objectos que favoreçam o vosso sonho. Não é fantástico?
A professora demonstrava felicidade mas os alunos não se contentaram. Estavam preocupados. O que eles iriam fazer daqui a vinte anos? Estar no desemprego? Com a forma como o país está provavelmente acabariam assim. Bem, nem todos tinham o mesmo pensamento, o Luís já se imaginava vestido com fato e gravata como um grande advogado e o João já se questionava como viria vestido de psicólogo.
A campainha tocou e todos os alunos saíram da sala. A próxima aula seria teste, o que deixou Raquel ainda mais nervosa. Luís foi ter com a namorada.
– Pensei nunca vir a dizer isto mas… e se fôssemos às compras? Preciso de comprar um smoking.
– Porquê um smoking? – Inquiriu a Raquel.
– Um advogado não costuma andar de fato e gravata?
Raquel sorriu.
– Claro. – Disse ela.
Os dois encaminharam-se para perto da sala.
– Diz-me lá, és tu a possível professora das aulas de preparação para os exames? – Perguntou ele.
Raquel afirmou com a cabeça. Marta aproximou-se dos dois.
– Já sabia que eras tu. Vou precisar de ajuda a História! Não gosto da professora e recuso-me a estudar com ela. – Disse ela.
– Tu estudaste para Português? – Perguntou Luís.
– Sim, fui obrigada a estudar a semana toda. Ter como padrasto o director da escola é difícil. Se bem que os cantos das páginas têm rabiscos.
– Novas roupas? – Perguntou a Raquel, a sorrir.
– Sim. Mas posso dizer que estudei.
Raquel riu-se.
Entretanto, a Luísa e a Carla também conversavam.
– A Raquel é uma das professoras das aulas de preparação para os exames. – Disse a Carla.
– Eu ouvi isso.
– E não vais querer?
– Detesto estudar!
Carla sorriu.
– Talvez não fosse má ideia alargares os teus horizontes para lá do departamento de teatro.
– Não tenho facilidade para isso, Carla. Nunca fui grande aluna.
– Mas é para o teu futuro.
– Eu entendo, Carla, eu entendo.
A campainha tocou. A aula de português tinha começado. O teste iria começar.
Fim do Capítulo 1.